quinta-feira, 18 de março de 2010















ANTÔNIO BARRETO-UM HOMEM CORDELISTA E CORDIALISTA, A HISTÓRIA (1ª PARTE)
O menino Toinho de Mariinha cresceu brincante entre animais e plantas no ambiente bucólico de comunidade rural do sertão onde, apesar da paisagem árida, havia presença de rios. O pano de fundo da cena era uma esplendorosa serra de morros. Marco divisório entre os municípios de Tanquinho e Santa Barbara, sua terra natal. Já desde criança Antônio Barreto gostava de assistir e participar, quando possível, das brincadeiras do lugar. Corrida de Saco, Bumba-boi, Tiração de Argola, Cantoria de Viola, Trezena de Santo Antônio, entre outras tradições locais. Aos 13 anos, mudou-se para a sede do município, onde pôde se aproximar de mais uma de suas paixões. Para ele, os ambulantes e os vendedores de livretos de cordel eram verdadeiros artistas das feiras-livres de Santa Bárbara. O fascínio era tal que ele só parava de apreciar a atuação dos mascates quando “convocado” pela a avó, com um puxão de orelha, a ir de volta para casa. “Me encantava a maneira como o camelô vendia o seu produto na feira. Como ele seduzia o comprador. E isso o cordelista também fazia para vender o seu folheto de cordel. Ele tinha de ser muito lúdico, muito brincalhão. Aquilo me encantava”. Assim lembra o cordelista, com certa dose de saudosismo. Antônio Barreto só não deve sentir saudades da maneira hostil que era tratado por alguns conterrâneos à época. Filho do comunista Pedro Barreto, o garoto sofria os preconceitos dos tempos de exceção. Nem sequer sabia o que era comunismo, mas não lhe agradava os chamados de “filho de comunista!” “Eu não tô entendendo, meu pai é uma pessoa boa, é de partilhar tudo que ele tem, por que ele é chamado assim?”. Hoje a auto-indagação é lembrança de uma questão sem resposta para a mente do menino Barreto à época. A Igreja de Santa Barbara também censurou e, para não ficar pagão, o menino Toínho Barreto precisou ser batizado em Feira de Santana. O Padre local não deixou o dono da padaria (Jaime Azevedo), que seria o padrinho do menino, entrar na Igreja. Antônio Barreto recorda que o pecado do padrinho era ser negro, comunista, espírita e intelectual auto-didata. Tom Zé diria que é contraversão demais para um homem só. Então, só cantando para espantar os males. Aos 14 anos, Antônio Barreto atuou nos programas de calouros do auditório público da cidade. No roteiro, a apresentação de sucessos interpretados por Jerry Adriane e Vanderlei Cardoso. Só mais tarde, descobriu Raul Seixas e, embalado pelas músicas do “maluco beleza”, aprendeu a tocar vilão. Nos anos 1980, já morando em Salvador, para onde foi, devido a necessidade de estudar o ensino médio, filiou-se ao Raul Rock Clube. O fã clube oficial do artista baiano era sediado em São Paulo e dirigido por Sylvio Passos. Através de Cartas, Barreto se mantinha atualizado sobre a carreira do artista. A imagem da carteira dele (sócio 10093/83) foi reproduzida na contracapa do cordel “O Encontro de Raul Seixas com Zé Limeira no avarandado da lua.” Na capital baiana, Barreto trabalhou no Pólo Petroquímico por 23 anos. Hoje está aposentado do emprego de alta periculosidade, onde exercia a função de Operador de Processo, trabalhando com benzeno e volume sonoro acima de 90 decibéis. Emprego de alta responsabilidade. Corria-se risco de explosão e vazamento letal. Um contemporâneo de Barreto acidentou-se e faleceu no hospital. O trabalho de Antônio Barreto, no Pólo, não foi resumido à responsabilidade e tragédia. Naquela época, em que já dava aula no turno noturno, lançou o “Cordel da qualidade de vida” e se apresentou na empresa. Só que ainda “não levava o cordel a sério”. Só depois da aposentadoria, em 1999, começou a praticar mais. Os amigos foram incentivando, incentivando... A esta época já havia escrito dois livro de poesias, Rimas e Loucuras (1985) e Uns Versos Outros (1995). Só dez anos depois, ao concluir oficina com Maria da Conceição Paranhos, publicou Flores de Umburana (2006), pelo selo Letras da Bahia - Fundação Cultural do Estado. No ano de 2004, Barreto fez uma oficina de cordel com Jotacê Freitas, a quem considera uma alma de luz, um irmão, um mestre. Daí não parou mais de fazer cordéis. E segue levando sua vida extrovertida, no seu papel de cinqüentão-solteirão, pai de três filhos. Após conviver com a mãe de sua primeira filha, hoje com 23 anos, partiu para “carreira solo” e teve o segundo filho (22 anos) e o terceiro (13 anos). E que Antônio Barreto siga fazendo seu cordelismo, com todo cordialismo.

Rosemary Borges Xavier, 2010-D.C-Cajueiro-Recife-PE

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