quinta-feira, 23 de julho de 2015




Naquele 23 de julho de 2013, a boa música lamentava o falecimento de José Domingos de Morais, aos 72 anos, no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo. O câncer de pulmão e as complicações infecciosas e cardíacas levaram o homem de carne e osso, mas não ganharam no ''Fim de festa''. Seu legado na arte de tocar sanfona ficara mais forte e incorruptível. Aquele som ''Cheinho de molho'' é parâmetro para muito instrumentista que busca aquilo que faz o ''13 de dezembro'', mais do que uma mera data de calendário.
Seu ''Lamento de caboclo'' inspirava melodias que somaram-se a urbanização do forró ao concreto da cidade grande e a saudade do nordestino. Como nem ''Tudo era azul'' e ''Festa no sertão'', ''Dominguinhos e seu Acordeon'' quebraram regras. Aplauso a um preservador da velha sanfona numa época dos violões poeticamente populares nos festivais universitários, da bossa nova e da invasão britânica/americana nas guitarras do revolucionário rock'n'roll: O ''Forró de Dominguinhos'' atualizava o grito plural do baião, ao englobar todas essas vertentes, novos instrumentos, sonoridades e estilos para a música brasileira, através da representatividade regional.
Não importou o dia. De segunda até ''Domingo, o menino Dominguinhos'' expressou como ninguém o fardo e a honra de ser nordestino, esteja do lado de lá ou do lado de cá. Com canções embebidas em uma criatividade genial, fundamentou uma parte esquecida da cultura brasileira em jogos de fole, emoções e virtuosismo. No lema do ''Quem me levará sou eu'', ele levou milhões no matulão fechado com um nó pelo Rei e aberto com ''Simplicidade'', ''Festejo e Alegria'' pelo seu súdito.
''Isso aqui tava bom e Gostoso demais'' até ele ir de vez. É, ''Seu Domingos'', ''É Isso Aí! Simples Como a Vida''. ''Garanhuns'' deixou para o mundo um verdadeiro ''Trinado do Trovão'' que ensinou a tocar do ''Choro Chorado'' até as ''Quebradas do Sertão''. Hoje, ''Dominguinhos é Tradição''. ''Nas Costas do Brasil'', seu nome estará sempre tatuado.
Um verdadeiro ''Iluminado'', Dominguinhos foi um dos maiores músicos que esse país já produziu. Sua música era comprometida com a verdade social de uma região do Brasil, com as emoções das pessoas na lágrima que cai pela saudade de casa, com dificuldades do retirante em viver nas metrópoles e pela gratidão de ter vencido e retornado pro seu torrão. Um nordestino que deixará sempre a saudade em evidência.
Esse era José Domingos de Morais.
O nosso Dominguinhos.

Por Renildo  Carlos

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